Breve Histórico da Indústria de Trigo e Moagem de Trigo no Brasil
Em 22 de novembro de 1990, entrou em vigor a Lei 8.096, que revogou o Decreto-Lei 210/1967. A Lei 8.096/90 declarou livres, em todo território nacional, a comercialização e a industrialização do trigo de qualquer procedência, liberando, como consequência, a comercialização e a industrialização do trigo no Brasil, sem os agentes econômicos estarem mais presos a limites, cotas e controles do governo, inclusive para a importação do grão. Em razão dessa mudança sensível, o setor passou por intensa transformação como resultado da abrupta desregulamentação e abertura ao comércio exterior, notadamente à Argentina, cujos custos de produção eram inferiores aos verificados no Brasil e, por consequência, produzia trigo a preços mais competitivos que o Brasil.
Aspectos mais Recentes da Indústria de Moagem de Trigo no Brasil
Atualmente, o Governo adota medidas intervencionistas direcionadas ao setor, seja por meio de Empréstimos do Governo Federal (EGF), da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), do Prêmio de Escoamento da Produção (PEP). Na prática, o PEP representa um subsídio nas duas pontas. Na do produtor, onde cobre a diferença entre o preço mínimo e o preço de mercado, e na das empresas, com o subsídio no transporte do trigo da região produtora até o moinho.
A produtividade da triticultura nacional, apesar de ter apresentado considerável evolução nos últimos anos ainda é baixa em relação aos principais produtores mundiais de trigo. As desvantagens envolvem condições climáticas desfavoráveis à cultura de inverno na maior parte do território nacional o que, associado às características do solo, influencia a qualidade do trigo brasileiro e/ou os custos de produção do grão.
Apesar do esforço do Estado em garantir a renda do produtor, os fornecedores, em especial a Argentina, conseguem desembarcar o grão a custos inferiores aos custos nacionais e/ou em padrões da qualidade superiores.
A tabela a seguir apresenta o consumo brasileiro de trigo nos últimos 5 períodos:
Produção, Importação e Consumo de Trigo no Brasil | ||||||
Ano | Produção | Variação | Importação | Variação | Consumo | Variação |
(Em Mil Toneladas – ano calendário, exceto porcentagens) | ||||||
2015/2016 | 5.540 | -7,67% | 6.745 | 25,51% | 11.100 | 3,74% |
2016/2017 | 6.730 | 21,48% | 7.349 | 31,51% | 12.200 | 9,91% |
2017/2018 | 4.264 | -36,64% | 7.021 | -13,94% | 12.000 | -1,64% |
2018/2019 | 5.428 | 27,30% | 7.500 | 11,04% | 12.100 | 0,83% |
2019/2020 |
5.200 | -4,20% | 7.100 | -4,60% | 12.100 | 0,00% |
Fonte: United States Department of Agriculture – USDA
A produção doméstica continua sendo insuficiente para suprir o consumo. Desta forma, o Brasil ainda é extremamente dependente da importação de trigo em grão, principalmente, da Argentina. A necessidade de importação imputa aos moinhos uma forte vulnerabilidade quantov às oscilações dos preços internacionais da commodity, que absorve a influência de fatores externos, inclusive movimentos expeculativos. Atualmente, as importações correspondem a cerca de metade do consumo nacional.
Aspectos Gerais da Concorrência da Indústria de Moagem de Trigo
De acordo com o USDA (United States Department of Agriculture), a produção mundial de trigo referente à safra 2019/20 foi estimada em 764,3 milhões de toneladas, quantidade 4,6% maior que no período de 2018/19. Destacam-se como grandes produtores de trigo, a China, a União Européia, a Índia, a Rússia e os Estados Unidos, sendo a Rússia e a União Européia são os maiores exportadores do mundo. O Brasil é classificado entre os 5 maiores importadores do mundo.
Em 2019 a Argentina, com base nos dados divulgados pela Associação Brasileira da Indústria de Trigo – Abitrigo, foi responsável em fornecer a maior parte da demanda de trigo importada pelos moinhos brasileiros.
As tabelas abaixo mostram os maiores produtores, consumidores e exportadores mundiais de trigo, bem como a produção e consumo do Brasil:
Maiores Produtores Mundiais de Trigo | ||||||
Ano | União Europeia | China | Índia | Estados Unidos | Rússia | Produção Mundial |
(Em Mil Toneladas) | ||||||
2014/15 | 156.912 | 126.208 | 95.850 | 55.147 | 59.080 | 730.411 |
2015/16 | 160.480 | 132.639 | 86.527 | 56.117 | 61.044 | 738.144 |
2016/17 | 145.369 | 133.271 | 87.000 | 62.832 | 72.529 | 756.313 |
2017/18 | 151.125 | 134.334 | 98.510 | 47.380 | 85.167 | 763.049 |
2018/19 | 136.685 | 131.430 | 99.870 | 51.306 | 71.685 | 730.536 |
2019/20 | 154.776 | 133.590 | 103.600 | 52.258 | 73.610 | 764.318 |
Fonte: United States Department of Agriculture – USDA
Maiores Consumidores Mundiais de Trigo | ||||||
Ano | União Europeia | China | Índia | Rússia | Estados Unidos | Consumo Mundial |
(Em Mil Toneladas) | ||||||
2014/15 | 124.677 | 117.500 | 93.102 | 35.500 | 31.328 | 700.417 |
2015/16 | 129.850 | 117.500 | 88.548 | 37.000 | 31.943 | 715.919 |
2016/17 | 128.000 | 119.000 | 97.234 | 40.000 | 31.865 | 738.334 |
2017/18 | 130.400 | 121.000 | 95.677 | 43.000 | 29.250 | 741.959 |
2018/19 | 121.050 | 125.000 | 95.629 | 40.500 | 30.024 | 735.243 |
2019/20 | 123.000 | 126.000 | 96.112 | 40.000 | 31.489 | 748.549 |
Fonte: United States Department of Agriculture – USDA
Maiores Exportadores Mundiais de Trigo | ||||||
Ano | Estados Unidos | União Europeia | Canadá | Rússia | Ucrânia | Exportação Mundial |
(Em Mil Toneladas) | ||||||
2014/15 | 23.523 | 35.455 | 24.170 | 22.800 | 11.269 | 164.229 |
2015/16 | 21.817 | 34.760 | 22.099 | 25.546 | 17.431 | 171.744 |
2016/17 | 29.318 | 27.439 | 20.297 | 27.815 | 18.107 | 182.436 |
2017/18 | 23.226 | 23.383 | 22.019 | 41.431 | 17.775 | 184.000 |
2018/19 | 26.069 | 23.310 | 24.476 | 35.838 | 16.019 | 175.387 |
2019/20 | 26.500 | 35.000 | 22.800 | 33.500 | 20.500 | 183.204 |
Fonte: United States Department of Agriculture – USDA
Conforme dados da ABITRIGO, dados atualizados até o fevereiro de 2019, havia, no Brasil, 165 moinhos de trigo em atividade. Boa parte encontra-se concentrada nas regiões Sul e Sudeste do País (e, assim, próximas aos principais fornecedores da matéria-prima).
Perspectivas para a Indústria de Moagem de Trigo
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra de 2019 encerrou o ano com uma produção de 5,15 milhões de toneladas, 5,1% abaixo comparado com o periodo de 2018. Já em relação a área plantada (em 1.000 ha), em 2019 houve reduçao de 0,1% frente a 2018 (2.040,5 vs 2.042,4).
De acordo com a previsão apontada no 8º Levantamento de Safra de Grãos 2019/2020, a estimativa de produção realizada em Maio para 2020 é de 5,43 milhões de toneladas. O trigo brasileiro sofre concorrência dos subsídios concedidos pela União Europeia, Estados Unidos e Canadá. Na ausência de subsídios, o Brasil seria competitivo neste setor, pois apesar de sofrer com aspectos climáticos, que são menos favoráveis que o clima de outros países, e preços mais caros para alguns insumos, possui mão-de-obra relativamente barata e pode contar com duas safras anuais.
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